segunda-feira, 1 de setembro de 2008

MÃE - Olhar de luz


Quando vi as primeiras luzes do mundo,
havia uma luz mais poderosa bem perto de mim.
Era a luz mágica de um olhar único,
capaz de acalmar a alma, aquecer o corpo e iluminar o ambiente.
Mais tarde, eu haveria de descobrir
que ele também iluminava caminhos e consciências.

Quando chorei pela primeira vez,
dois braços carinhosos me envolveram
e então eu ouvi uma suave canção de acalanto,
capaz de transformar qualquer pranto em encanto.
Mal sabia que minhas lágrimas de adulto
jamais encontrariam semelhante conforto.

Quando senti minha primeira fome,
senti também um toque de inigualável ternura nos lábios
e logo pude saciar-me
com o mais puro e doce de todos os leites.
Mal sabia que nunca mais provaria tão sublime iguaria.

Quando arrisquei minha primeira fala,
ouvidos atenciosos me garantiram audiência
e um grito de alegria saudou aquelas palavras
aparentemente incompreensíveis que eu tentava formular.
Nem mesmo com todo o vocabulário
que adquiri ao longo da vida,
consigo hoje tamanha comunicação.

Quando encontrei espaço para os primeiros passos,
mãos vigilantes me deram apoio
e me conduziram para o meu destino de menino.

Na primeira hesitação, um delicado empurrão.
Na primeira queda, o amparo.
Na primeira vitória, o aplauso.
Como foram importantes aquelas mãos
e como foi difícil aprender a andar pela vida
sem tê-las por perto!

Nos meus primeiros erros e acertos da saudosa experiência
chamada adolescência,
conheci tanto a correção quanto a aprovação,
aprendi a diferença entre o sim e o não,
recebi incentivo e sermão, castigo e perdão.
Hoje acredito que quem assim cresce
jamais esquece tão sublime lição.

Ao ingressar no país encantado da juventude,
procurei outros laços e outros abraços,
como recomenda o manual de instrução da espécie humana.

Nesta caminhada de novas emoções,
tive êxitos e fracassos,
alegrias e tristezas,
amores e dissabores.
Muitas vezes tive ímpetos de avançar
e, em outras tantas,
vontade de voltar.
Mas eu sabia que a única saída
era viver minha própria vida.
Aos trancos e barrancos, cheguei aos cabelos brancos.

E recebi da vida, talvez sem merecer,
a maior de todas as bênçãos
- o olhar iluminado de minha mãe,
que ainda hoje me guia pelos labirintos da existência,
me ampara nos momentos de dúvidas
e me serve de espelho para o sempre.

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