quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O SILÊNCIO DO OLHAR

As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar.

O olhar é espelho da alma — diz um adágio que existe em todos os idiomas. Só deixará de ser quando a alma libertar-se do corpo e... dos olhos, e voar para outras paragens, onde o relacionamento humano não careça de espelho para realizar-se.

Olhares reveladores...
por Flávio Bastos - flaviolgb@terra.com.br

O olhar é a janela da alma por onde passa a energia que reflete o estado interior do indivíduo. São tantos os olhares, desde os menos aos mais expressivos. Todos, porém, expressam algo revelador de uma "radiografia" interna que normalmente desconhecemos.

O olhar lânguido(ou furtivo), encontramos nas pessoas que investem na sua sensualidade como forma de atração do sexo oposto ou do mesmo sexo. Entre estas pessoas que se atraem, os relacionamentos costumam começar com um primeiro e significativo olhar, o olhar da atração sexual.

O olhar perdido encontramos entre as pessoas que experimentam um desgosto pela vida.
Nos indivíduos depressivos, nos meninos e meninas de rua e nos mendigos, assim como em certos intelectuais e idealistas das chamadas "causas perdidas".

O olhar misterioso é aquele que suscita em nós algo desconhecido ou transcendente, e que foge ao trivial das comunicações de nível apenas sensorial. Os gurus ou mestres das mais variadas origens religiosas costumam, ao olhar, transmitir esta energia especial.

O olhar empedernido é o olhar duro de uma personalidade de comportamento rígido consigo e com os outros. Comumente encontrado em pessoas que exercem cargos de chefia, principalmente nas áreas empresarial e militar.

O olhar observador é aquele que analisa, avalia e tira as suas próprias conclusões sobre o foco da sua observação. Encontrado em intelectuais, cientistas e terapeutas, principalmente.

O olhar preconceituoso é o olhar que tem um fundo revelador de discriminação. É aquele que analisa a pessoa "de cima para baixo" como se estivesse verificando, pela aparência, a condição social da mesma. Encontrado nas pessoas que costumam dar alto valor às aparências, principalmente nos vaidosos e orgulhosos.

O olhar firme é revelador de firmeza de caráter, de firmeza interior, e distingue-se do olhar duro (empedernido) pela não manifestação do radicalismo neurótico no "uso" inconsciente do "ser firme". É mais comum no homem e mais observável pela mulher.

O olhar maroto é aquele olhar característico de "segundas intenções". Normalmente vêm associado à atração sexual por uma pessoa, ou aos jogos da sensualidade como o flerte e a conquista. Está mais relacionado à adolescência, enquanto o olhar lânguido relaciona-se mais à fase adulta do indivíduo.

O olhar apaixonado é o olhar revelador do "brilho nos olhos" da paixão. É uma característica pessoal e inerente à natureza humana. Pode manifestar-se em curtos ou longos períodos e com alternâncias de intensidade, como pode também jamais manifestar-se.

O olhar inteligente transmite conhecimento e sabedoria. Em parte confunde-se com o olhar misterioso, mas, fundamentalmente, distingue-se daquele pelo fator não-religioso enquanto dogma. É o olhar da pessoa moderna, lúcida e voltada às coisas da alma e das ciências de um modo geral.

O olhar superior é encontrado naquelas pessoas que possuem um sentimento de superioridade perante às demais. Em parte, aproxima-se da pessoa de olhar preconceituoso, mas distingue-se desta, pelo aspecto do fator orgulho elevado ao extremo. É a pessoa popularmente conhecida como "se possuísse o rei na barriga".

O olhar confiante, por si só, transmite aquilo que é externamente captado: confiança. Revela transparência interior e, normalmente, é encontrado em pessoas idealistas e em líderes comprometidos com as causas sociais.

O olhar profundo é aquele olhar encontrado nos grandes mestres da espiritualidade e das ciências. Se observarmos o olhar de Einstein, de Mahatma Gandhi ou de Francisco Xavier, imaginaremos como seriam, entre outros, os olhares de Jesus Cristo e de Buda. São marcas registradas de almas evoluídas que chegaram a um nível em que seus olhares estão na razão direta da sintonia de seus espíritos.

Os olhares, portanto, longe de serem algo que nada representam, são reveladores da nossa personalidade e do nosso caráter, ou seja, da nossa intimidade. São marcas registradas que subjetivamente nos informam como encaramos a vida e os nossos relacionamentos. E o que é mais importante: nos mostram o que precisamos modificar para melhorarmos com relação ao que somos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A LÂMPADA QUE ILUMINA O CORPO É O OLHO

“A lâmpada que ilumina o corpo é o olho. Se teu olho for transparente ficarás todo cheio de luz” (Lc 11,34)

Em todos os próximos que encontras no teu dia, da manhã à noite, vê neles Jesus. Se o teu olho é simples, quem olha por ele é Deus. E Deus é amor, e o amor quer unir, conquistando.
Quantos, errando, olham as criaturas e as coisas para possuí-las! E esse olhar é egoísmo, ou inveja ou, seja como for, pecado. Ou olham para dentro de si para se possuírem, para possuírem as próprias almas, e esse olhar é apagado, porque perturbado ou entediado.
A alma, porque imagem de Deus é amor; e o amor, voltado sobre si mesmo, é como a chama que, não alimentada, se apaga.

Olha para fora de ti, não para ti, nem para as coisas, nem para as criaturas: olha para Deus fora de ti para unir-te a Ele.

Ele está no fundo de cada alma que vive e, se morta – ou seja, não está na graça de Deus, é tabernáculo de Deus, que ela espera para alegria e expressão da própria existência.
Olha, portanto, cada irmão amando; e amar é doar. Mas dádiva chama dádiva, e serás por ele amado.
Assim, o amor é amar e ser amado, como na Trindade. E Deus em ti arrebatará os corações, acendendo nesses corações a Trindade que neles repousa quem sabe, pela graça, mas neles está apagada.
Não acendes a luz em um ambiente – mesmo havendo a corrente elétrica – enquanto não fizeres a ligação dos pólos.
Do mesmo modo é a vida de Deus em nós: deve ser posta em circulação para ser irradiada fora testemunhando Cristo: o único que une o Céu à terra, o irmão ao irmão.

Olha, portanto, cada irmão doando-te a ele para doar-te a Jesus, e Jesus se doará a ti. É lei de amor: “Dai e vos será dado” (Lc 6,38).

Deixa-te invadir pelo irmão – por amor de Jesus –, deixa-te “consumir” pelo irmão – como outra Eucaristia –; coloca-te todo a seu serviço, que é serviço de Deus, e o irmão virá a ti e te amará. E no amor fraterno reside o cumprimento de cada desejo de Deus que é mandamento: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros” (Jo 13,34).
O amor é um Fogo que compenetra os corações numa perfeita fusão. Então, encontrarás em ti não mais a ti mesmo, não mais o irmão; encontrarás o Amor, que é Deus vivente em ti.
E o Amor sairá para amar outros irmãos porque, tendo o olhar simplificado, encontrará a si mesmo neles e todos serão um.
E ao teu redor crescerá a Comunidade: como os doze, os setenta e dois, milhares… como ao redor de Jesus.
É o Evangelho que, fascinando – porque Luz em amor – arrebata e arrasta. No final, quem sabe, morrerás numa cruz, para não seres maior do que o Mestre, mas morrerás por quem te crucifica, e assim o amor terá a última vitória. Mas a sua seiva, difusa nos corações, não morrerá.
Frutificará, fecundando, alegria e paz, e Paraíso aberto.
E a glória de Deus crescerá.
Mas é preciso que tu sejas, aqui na terra, o Amor perfeito.
Chiara Lubich